top of page

CANTO DAS CONTAS - 2012

Este trabalho começou de forma muito despretenciosa.

Em 2010 conheci o Terreiro de Umbanda de Pai Tajubim, situado em Campinas, cidade em que moro. Eu já estava envolvida com pesquisas de musicas relacionadas à cultura popular, especialmente às ligadas as religiões afro-brasileiras. Fiquei intrigada quando percebi que os caboclos coroados que atendiam no terreiro tinham nomes muito diferentes dos normalmente utilizados em outros terreiros do Brasil. E, talvez por causa disso, não haviam “pontos” com seus nomes.

Pedi permissão ao Babalaô do terreiro, Pai Domingos de Oxossi, para fazer algumas canções. Pedi licença às entidades da casa e assim que todos os trâmites ritualísticos foram feitos comecei o processo de composição.

Foi uma das coisas mais intensas que vivi em toda minha vida de compositora. No final de dezembro de 2010 comecei a compor e no final de janeiro já tinha feito todas as canções.

Fui arrebatada, totalmente envolvida nesse processo. Fazia as canções sem usar instrumento harmônico, só cantando as melodias, escrevendo as letras que vinham num enxurrada de lirismo e emoção. Cada canção parida me emocionava a tal maneira que eu chorava copiosamente. Mal finalizava uma música já vinha a inspiração, aquela agonia que se sente antes da canção poder vir à flôr da consciência. Não comia direito, não dormia, não conseguia dividir esse processo com o mundo nem com as pessoas. Muitas vezes Pai Domingos precisou vir em meu auxílio.

Fiquei muito cansada com esse processo tão vigoroso. Cansada e emocionada. Cansada e surpresa. Cansada e ligada de uma forma muito peculiar a cada uma dessas entidades homenageadas.

Quando vi o material composto, babando como só uma mãe coruja sabe fazer, sugeri que esse material todo fosse produzido, não como são produzidos os discos de música umbandista, na simplicidade de voz e de atabaques. Queria harmonizar essas canções e produzir um cd que pudesse ser ouvido por pessoas que não fossem da religião.

Meu braço ritmico foi o percussionista Cris Monteiro. Parceiro antigo, presente em vários trabalhos meus, ele era a pessoa indicada para transformar o que eu tinha ouvido somente como melodia em pulso e ritmo. Eu fiz as canções mas ele é o co-autor desse trabalho, assinando a concepção ritmica desse trabalho e executando as percussões em todas as faixas.

Todas as cordas foram colocadas e concebidas por Marcelo Modesto que usou violões de aço, de doze cordas, violão gipsy, guitarras, banjos, baixo elétrico, manjolins e cellos e a produção executiva foi partilhada com Chiquinho do Pandeiro, ogan da casa, que assina os pandeiros do cd.

Daniel Costa Romanetto colocou os cavaquinhos e o banjo cavaco, Eduardo Lobo os violões de seis e sete cordas e Anderson Alves o clarinete e o sax soprano. Samuel Dexter fez o piano na única faixa dedicada à linha de Preto Velhos, em homenagem a Vó Pureza. Adriel Job e Ding Dong participaram das percussões nos sambas. O coro foi feito por médiuns da corrente.

É um cd que eu tenho profundo afeto e que foi prensado com o apoio da AEUPT,Associação Espiritual de Umbanda Pai Tajubim.

 

Este disco está disponível na lojinha do site nas versões disco físico e disco digital.

bottom of page