BRIGADA DE OXALÁ
Músicas de Tatiana Rocha e Alexandre Lemos.
Este cd é a trilha musical do romance Brigada de Oxalá de Tatiana Rocha,
Produção musical – Tatiana Rocha e Alexandre Lemos
Gravação, mixagem e masteriazação – Alexandre Lemos
Gravado em Campinas entre abril e junho de 2016
1. Conselho de Velha ( Alexandre Lemos)
voz: tatiana rocha
violão: alexandre lemos
baixo- antônio porto
percussão- cris monteiro
dorme logo, menino que esse dia já foi
e a noite tá preta feito a cara do boi
o teu sonho tá pronto ele tá te chamando
presta muita atenção que ele vai te ensinando
que a terra é que tem o poder de gerar as ervas
e que um banho de ervas te limpa e te lava das trevas
e que a fé é a luz que clareia o breu das cavernas
e que a nossa palavra nasceu das verdades eternas
cresce logo, menino, que esse tempo é veloz
e que em cada vereda pode estar seu algoz
nunca foi brincadeira, presta muita atenção
que a vida é mais doce pra quem sabe a lição
que o poder do terreiro depende da sua corrente
e que o passe é o gesto que faz a limpeza na gente
e que a força da gira rejeita a mentira e vaidade
e que toda oferenda só vale se for de verdade
se prepara, menino, porque a hora já é
e essa luta foi feita pra quem é feito de fé
é de sangue e de morte sacrifícios e dor
e só luta mais forte, quem lutar pelo amor
porque o mal é antigo e é muito pior que se pensa
e os soldados do bem é quem vão evitar que ele vença
e o soldado é capaz quando sabe que faz diferença
batalhar lado a lado da luz do amor que é imensa
e o bem vai vencer a batalha na noite mais densa
pra que todos os seres recebam o amor de nascença
2. Água por debaixo do chão ( Alexandre Lemos)
voz e vocal– tatiana rocha
voz e violão base – alexandre lemos
violão e baixo: antonio porto
água debaixo do chão,
amor de dentro de mim
pode virar ribeirão,
pode virar um jardim
tudo tem cor, água não tem
água de flor, porém
se não tem cor tem cheiro
feito um amor primeiro
que tem por seu costume
a cor de seu perfume e o cheiro da paixão
porque pra ter jardim tem que ter ribeirão
porque pra ter jardim tem que ter ribeirão
se a água é minha mãe e a água não tem cor
então que não se estranhe se é transparente o meu amor
então que não se estranhe se é diferente o meu amor
3. Quem não quer (Alexandre Lemos e Tatiana Rocha)
voz: Alexandre Lemos
violão base- Tatiana Rocha
violão e baixo- Antonio Porto
percussão – Cris Monteiro
Os meninos batizados como apóstolos cristãos
nunca vão andar sozinhos, eles têm muitos irmãos
que vieram dos caminhos de onde vêm os andarilhos
a mulher que me acompanha, ela é mãe de muitos filhos
se vieram andarilhos, se tornaram caminhantes
porque sabem que depois é ao mesmo tempo antes
eles têm suas razões, seus destinos são só deles
a mulher que eu acompanho, ela é mãe de todos eles
ô, quem não quer
ô, quem não quer
ô, quem não quer
ser filho dessa mulher
ela sabe, ela ensina que do chão se dá o salto
porque tudo aqui de baixo também veio lá do alto
e ela sabe que a ciranda lá no alto não se encerra
pois brilhando nas alturas um espelho vê a terra
minha doce companheira sabe que maior que o medo
a estrela da alvorada sempre vai nascer mais cedo
ela viu que a verdade é o poço mais profundo
ela sabe que o batuque é a pulsação do mundo
ô, quem não quer
ô, quem não quer
ô, quem não quer
ser filho dessa mulher
4. Doutor Caminho ( Alexandre Lemos e Tatiana Rocha)
voz: tatiana rocha
violões e baixos – antônio porto
percussão- cris monteiro
doutor caminho não se negue a mim, eu vim a pé, até de jegue eu vim
doutor caminho, não se feche não que eu tô sozinho, peixe sem pirão
pedi carona, fui um bom garçom de zona já dormir em muita lona, de circo e de caminhão
andei a esmo, me alimentei de torresmo, misturado, isso mesmo, com um resto de feijão
senhora estrada, não me diga adeus, porque só tenho esses passos meus
senhora estrada, não me deixe aqui, não tenho nada, eu só preciso ir
vou na carreira, mendigando em fim de feira, eu vou sem beira e vou sem eira
vou achando que é comum eu tenho pressa, entra beco, sai travessa,
quem eu sou não interessa, Eu me chamo qualquer um
senhor destino, sirva de farol que o dia nasce mas não traz o sol
senhor destino, nada me detém, eu to correndo pra cuidar de alguém
eu não descanso , ando léguas e não canso
de nervoso eu fiquei manso, tão manso que dei um nó
um nó tão cego que ás vezes eu me pego
meio doido não entrego porque manso é bem pior
eu vou no passo que o caminho deu
é meu destino, estrada lá vou eu
5. Odoiá, Rainha do Mar ( Tatiana Rocha)
voz – tatiana rocha
piano – diogo nazareth
yemanjá, rainha do Mar
odoiá, teu canto é maré
vem e vai nas ondas do mar
e a lua é a minha fé
odoiá, Rainha do Mar
vem ouvir meu canto-oração
água santa pode curar
toda a mágoa do coração
yemanjá, rainha do Mar
odoiá, teu canto é maré
vem e vai nas ondas do mar
e a lua é a minha fé
yemanjá, rainha do Mar
vem ouvir meu canto-oração
água santa pode espantar
toda a mágoa do coração
6. A pele do Mundo ( Alexandre Lemos e Tatiana Rocha)
voz- tatiana rocha
piano- diogo nazareth
tem que ter amor pra saber a dor
pode ser de ouro , pode ser de sal
a pele do mundo é couro
meu tesouro é igual
se nasceu do fogo, vai saber honrar o mar
pelo som eu rogo uma direção pra caminhar
quando a terra cora, chora o sol que vai ter fim
quando eu for embora quem me batizou vai cuidar de mim
7. Guardião ( Alexandre Lemos)
voz e violão base- alexandre lemos
violão- felipe camara
bandolim- fernando jonavo
baixo- antônio porto
percussão – cris monteiro
sou a firmeza do chão e também o que faz o chão tremer
sou a clareza do não que as vezes alguém tem que dizer
sou o vazio do vão , esse vão que eu cansei de preencher
eu não sou homem nem cão mas carrego a missão de obedecer
eu pareço torto mas meu papo é reto
eu pareço morto porque vou de preto
ando na calada da noite, no rastro do açoite, no meio da escuridão
minha figura de assombra, eu sou tua sombra
sou teu guardião
sou a pureza do impuro e o fruto maduro que caiu
abro caminho no escuro eu trago o futuro a quem pediu
mas escolher, não escolho, a escolha é do olho de quem vê
fique avisado que o mau desejado retorna pra você
eu pareço louco, mas ninguém me afronta
eu pareço pouco, mas eu sou a conta
sirvo a quem quer e me aceita, eu ando a espreita no meio da multidão
eu sou a gargalhada, na encruzilhada do teu coração
8. Folhas no chão ( Alexandre Lemos)
voz e violão base- tatiana rocha
violões e baixo- antônio porto
Pandeiro - cris monteiro
o vento deu na mata, folhas no chão
e se o futuro vem
o tempo se revira em outra estação
e a gente vai além
metamorfose que se dá dose por dose quando faz o grão
brotar em flor de toda cor que seu destino é se espalhar no chão
o que se tem, tem que caber na mão
o resto é ilusão
andar sozinho nunca foi solidão
o mundo é cada um
mas se o caminho não tiver direção
dá em lugar nenhum
a lua tem um outro lado que ela esconde por detrás do luar
mas antes que o futuro acabe ela sabe que vai ter que mostrar
porque a verdade é coisa de se olhar
e se admirar
okê, caboclo a sua mata é santa
okê, caboclo a mata é santa e sua benção é verde
pisa na folha seca, caboclo
brilha na alvorada,lança seu tiro é certeiro
sua mata é santa, caboclo
okê, caboclo
9. Pedido ( Alexandre Lemos e Tatiana Rocha)
voz e vilão base – tatiana rocha
violões e baixo- antônio porto
percussão- cris monteiro
eis a minha alma retorcida
revirada, ressequida, revoltada,
ressentida sem vingança e sem perdão
eis aqui meu corpo alquebrado, maltrapilho,
aleijado, agredido, aviltado
sem repouso e sem ração
ah, se eu pedisse e se alguém me ouvisse
se eu me arrependesse ai se eu morresse
e se eu me deixasse se eu descansasse
eis a minha culpa confessada remoída, mastigada digerida,
dissecada sem desculpa e sem porvir
eis aqui meus olhos perfurados lacrimosos, lacerados
furiosos e cegados sem fechar e sem sentir
ah, mas se eu pedisse E se alguém me ouvisse Se eu me arrependesse
ai se eu morresse e se eu me deixasse se eu descansasse...
Mar azul ( Tatiana Rocha)
voz- tatiana rocha
violões de aço – felipe camara
quem canta sou eu
quem doou a voz
pelos bambuzais somos todos sóis mas temos luar,
prata da manhã também faz cegar
basta procurar pelos arrebóis
um caminho justo entre sombra e luz
num passo mais curto, de um jeito mais leve
para que um dia todos possam ver o mar azul
quem reza sou eu
quem doeu demais e cicatrizou antes de ter paz
olho que secou, peito que estremeceu mas vingou
soube resistir, soube até rezar para vier pedir
que um dia todos possam ver o mar azul
pela minha voz, pela minha fé pelo que tu é, eu rezo por nós
como madrigais, portos ou faróis
pra mim tanto faz eu só quero paz
para que um dia todos possam ver o mar azul
10. Serena ( Alexandre Lemos)
voz , violão e programação – Alexandre Lemos
bandolin – fernando jonavo
Baixo – Antonio Porto
o ponto de chegada é a missão cumprida
que logo se transforma em ponto de partida
porque todo encontro é o resto da vida
a estrada nunca é pequena
e a vida não nos envenena
e a maré que vem com força vai serena
serena, serena, serena
o ponto do bordado é arte que se aninha
no pano pelo abraço do traço da linha
porque todo encontro é o destino que vinha
a estrada nunca é tão amena
a vida às vezes nos condena
mas depois da tempestade a calmaria vem serena
serena, serena, serena
o ponto que se canta é a fé que ecoa
no coração que bate dentro da pessoa
porque todo encontro não é coisa à toa
a estrada nunca sai de cena
a vida é uma estrada plena
e quando cai o pano a eternidade vem serena
serena, serena, serena
11. Valsa ventada (Alexandre Lemos)
voz- tatiana rocha
piano- diogo nazareth
sonhei que te sonhava e te imaginava vindo feito o vento
eu nem te conhecia mas você já lia o meu pensamento
nas coisas que eu pensava o tempo não me dava colo nem passagem
e aí você ventava e o teu ar me dava muito mais coragem
e então eu caminhava e te respirava cada vez mais fundo
e eu não hesitava porque eu precisava era mudar o mundo
se o teu vento mudava eu não reclamava nem quando chovia
ah, eu adivinhava que a chuva lavava o medo e a agonia
e quando eu delirava a luta que eu lutava em cada moinho
aí você soprava e eu já não estava nunca mais sozinho
enquanto eu te sonhava a vida não parava de tão real e crua
e aí eu me salvava sonhando que acordava
e o teu sorriso me mostrava que o sonho continua
Em 2014 resolvi escrever um livro. Não sabia ao certo que história era aquela que rondava minha cabeça e quando percebi, tinha escrito um romance que falava sobre umbanda.
Em 2015, instantes depois de ter terminado por completo o livro, surgeri a Alexandre Lemos, parceiro antigo, que fizéssemos canções que servissem, como trilha sonora do livro. Nasceu assim o livro&cd Brigada de Oxalá: um livro que possui sua trilha sonora.
Começamos uma intensa campanha de financiamento coletivo e uma das recompensas para quem contribuisse com o Brigada era uma composição feita especialemte para o colaborador.
Eu passava horas e mais horas sentada a frente da tela do computador, trabalhando intensamente para conseguir bater a meta proposta e o esquema do financiamento era tudo ou nada! Alexandre fez a maioria das canções sob encomenda e algumas ficaram tão boas que resolvemos incluir no disco, levando ainda em consideração que ela deveria servir como cenário musical do livro.
Algumas canções ficaram de fora.
Algumas letras não foram musicadas por mim. Dormem esquecidas nos arquivos do meu pc e eu olho para elas com carinho e um tanto de piedade.
Gravamos este cd no estúdio que tínhamos em casa. Eu queria um disco que não tivessse sonoridade que remetesse à umbanda ou à canções da cultura popular porque já tinha feito isso nos trabalhos anteriores. Eu queria a canção, com total ênfase à palavra, ao discurso, já que acredito que algumas coisas precisam ser ditas.
Alexandre é ateu. Eu, dirigente de um terreiro de umbanda. Alexandre é um grande letrista e soube traduzir nossas longas conversas filosóficas em lindíssimas letras que eu, certamente, não conseguiria fazer melhor.
Convidamos amigos queridos para gravar conosco. Eu mantive uma dupla antiga de amigos-músicos e filhos de santo: Cris Monteiro e Dioogo Nazareth. Alexandre convidou Antônio Porto, Felipe Camara e Jonavo e todos foram extremamente carinhosos conosco e não existe muito obrigado que seja suficiente para tanta gratidão.
O disco foi mixado e masterizado por Alexandre e tivemos inúmeras discussões quando mixávamos. Ele diz que a mixagem é minha e eu insisto em dizer que é dele e até hoje não chegamos a acordo nenhum sobre o tema.
Em 2016 o disco e o livro Brigada de Oxalá chegaram ao mundo e é meu décimo disco.
É especialíssimo pela temática, pela parceria, pela importância que tem ao falar de um tema que eu tanto prezo e que tem espaço imenso em minha vida.
Que espalhe luz, bondade e beleza!
Axé!